sábado, 7 de agosto de 2010

simulado 4 sociologia


1
Sobre a exploração do trabalho no capitalismo, segundo a teoria de Karl Marx (1818-1883), é correto afirmar:
a) A lei da hora-extra explica como os proprietários dos meios de produção se apropriam das horas não pagas ao trabalhador, obtendo maior excedente no processo de produção das mercadorias.
b) A lei da mais valia consiste nas horas extras trabalhadas após o horário contratado, que não são pagas ao trabalhador pelos proprietários dos meios de produção.
c) A lei da mais-valia explica como o proprietário dos meios de produção extrai e se apropria do excedente produzido pelo trabalhador, pagando-lhe apenas por uma parte das horas trabalhadas.
d) A lei da mais valia é a garantia de que o trabalhador receberá o valor real do que produziu durante a jornada de trabalho.
e) As horas extras trabalhadas após o expediente constituem-se na essência do processo de produção de excedentes e da apropriação das mercadorias pelo proprietário dos meios de produção.

2
Leia o texto a seguir:
As sociedades primitivas são sociedades sem Estado: esse julgamento, de fato, em si mesmo correto, na verdade dissimula uma opinião, um juízo de valor, que prejudica imediatamente a possibilidade de constituir uma Antropologia política como ciência rigorosa. O que de fato se enuncia é que as sociedades primitivas estão privadas de alguma coisa – o Estado – que lhes é, tal como a qualquer outra sociedade – a nossa, por exemplo – necessária. Essas sociedades são portanto, incompletas. Não são exatamente verdadeiras sociedades – não são policiadas –, e subsistem na experiência talvez dolorosa de uma falta – falta do Estado – que nelas tentariam, sempre em vão, suprir.[...]. Já se percebeu que, quase sempre, as sociedades arcaicas são determinadas de maneira negativa, sob o critério da falta: sociedades sem Estado, sociedades sem escrita, sociedades sem história. (Mas, por outro lado, deve ser levado em consideração que nestas sociedades) a relação do poder com a troca, por ser negativa, não deixa de mostrar-nos que é ao nível mais profundo da estrutura social, lugar da constituição inconsciente das suas dimensões, de onde advém e onde se encerra a problemática desse poder. Em outros termos, é a própria cultura, como diferença maior da natureza, que se investe totalmente na recusa desse poder.[...]. Elas pressentiram muito cedo que a transcendência do poder encerra para o grupo um risco mortal, que o princípio de uma autoridade exterior e criadora de sua própria legalidade é uma contestação da própria cultura [...]; descobrindo o grande parentesco do poder e da natureza, como dupla limitação do universo da cultura, as sociedades indígenas souberam inventar um meio de neutralizar a violência da autoridade política.
(CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978, p. 133, 33-34.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:
I. A existência de sociedades sem Estado, se deve ao fato de que nestas sociedades há uma identificação, ainda que inconsciente, entre a concentração de poder e a negação da cultura.
II. Nas sociedades sem Estado, a recusa à centralização do poder se deve à existência de mitos específicos que identificam a autoridade política a seres demiúrgicos.
III. Existe uma tendência segundo a qual as sociedades denominadas como “primitivas” são consideradas negativamente, através de uma ótica que se pauta na ausência de determinadas características presentes nas sociedades ocidentais, e que não leva em consideração suas peculiaridades culturais.
IV. As sociedades “primitivas” não possuem Estado em decorrência do seu atraso quanto ao desenvolvimento das instituições políticas, às formas de parentesco e às racionalidades comunicativas.

Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas corretas.
a) I e II.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

3
No capitalismo, os trabalhadores produzem todos os objetos existentes no mercado, isto é, todas as mercadorias; após havê-las produzido, entregam-nas aos proprietários dos meios de produção, mediante um salário; os proprietários dos meios de produção vendem as mercadorias aos comerciantes, que as colocam no mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, não conseguem comprá-las. [...] Embora os diferentes trabalhadores saibam que produziram as diferentes mercadorias, não percebem que, como classe social, produziram todas elas, isto é, que os produtores de tecidos, roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe social. Os trabalhadores se vêem como indivíduos isolados [...], não se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas.
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre alienação e ideologia, considere as afirmativas a seguir:
a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade de cada trabalhador em superar a situação de exploração em que se encontra sob o capitalismo.
b) É no mercado que a exploração do trabalhador torna-se explícita, favorecendo a formação da ideologia de classe.
c) A ideologia da produção capitalista constitui-se de imagens e idéias que levam os indivíduos a compreenderem a essência das relações sociais de produção.
d) As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações de classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado.
e) O processo de não identificação do trabalhador com o produto de seu trabalho é o que se chama alienação. A ideologia liga-se a este processo, ocultando as relações sociais que estruturam a sociedade.

4
Observe o gráfico a seguir:

(PNUD, Atlas Racial Brasileiro - 2004)
De acordo com os dados e os conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:
a) A pobreza é um fenômeno que afeta basicamente a população de cor branca, uma vez que, em todo período mostrado no gráfico, a porcentagem de indigentes brancos aumentou em relação à porcentagem de brancos pobres.
b) Após 1990, aumentou a proporção de brancos abaixo da linha de indigência, que passou de pouco mais de 10% para aproximadamente 25% do total da população.
c) Após 1994, a proporção de negros pobres no total da população negra no Brasil permanece em torno de 50%, enquanto varia aproximadamente em torno de 20 a 25% a proporção de brancos pobres no mesmo período.
d) A pobreza é um fenômeno que é afetado pela raça ou cor, enquanto que a indigência não demonstra ter relação com a questão racial, uma vez que a variação entre negros indigentes e brancos pobres é bastante aproximada em todo o período.
e) A pobreza é um fenômeno que vem aumentando continuamente em toda população brasileira ao longo do período que vai de 1982 a 2003, demonstrando os equívocos dos estudos sobre desigualdade baseados nas variáveis de raça ou de cor.










5
Observe o gráfico a seguir:

(Desigualdade, Estabilidade e Bem-Estar Social, Marcelo Neri, 2006.)
Com base no gráfico e nos conhecimentos sobre o período, assinale a alternativa correta.
a) Do penúltimo ano do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso em diante, observa-se uma diminuição na concentração de renda, com uma redução contínua na diferença de renda entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres.
b) Entre o ano subseqüente ao lançamento do Plano Real e o ano da primeira eleição do presidente Lula, houve uma redução na renda dos 50% mais pobres e um aumento na renda dos 10% mais ricos.
c) Durante o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, aumentou em aproximadamente 3% a diferença entre a renda dos 10% mais ricos e os 50% mais pobres.
d) Houve uma maior distribuição de renda no Brasil no período que compreende o ano anterior ao lançamento do Plano Real e o ano subseqüente, com redução na distância entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres.
e) Durante o primeiro mandato do presidente Lula, houve uma elevação média aproximada de 1,5% na renda dos 10% mais ricos da população e uma redução média aproximada de 1,5% na renda dos 50% mais pobres.

6
A formação cultural do Brasil tem como eixo central a miscigenação. Autores, como por exemplo Gilberto Freire, destacaram que a mistura de raças/etnias européias, africanas e indígenas configuraram nossos hábitos, valores, hierarquias, estilos de vida, manifestações artísticas, enfim, a maioria das dimensões da nossa vida social, política, econômica e cultural. Entretanto, outros pensadores consideravam-na um aspecto negativo em nossa formação e tentaram ressaltar as origens européias de algumas regiões, como o intelectual paranaense Wilson Martins afirmou:
Assim é o Paraná. Território que, do ponto de vista sociológico, acrescentou ao Brasil uma nova dimensão, a de uma civilização original construída com pedaços de todas as outras. Sem escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que a sua definição não é brasileira. Inimigo dos gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem alardes, impor o predomínio de uma idéia nacional a tantas culturas antagônicas. E que pôde, sobretudo, numa experiência magnífica, harmonizá-las entre si, num exemplo de fraternidade humana a que não ascendeu a própria Europa, de onde elas provieram. Assim é o Paraná.
(MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz, 1989. p. 446.)

O preconceito em relação às origens africanas e indígenas criou uma ambigüidade no processo de autoafirmação dos indivíduos em relação às suas origens.
Assinale a alternativa em que a árvore genealógica relatada por um indivíduo evidencia esse sentimento de ambiguidade em relação à formação social brasileira.

a) Meu avô paterno, filho de italianos, casou-se com uma filha de índios do interior de Minas Gerais; meu avô materno, filho de português casado com uma negra, casou-se com uma filha de portugueses. Apesar de saber que sou fruto de uma mistura, dependendo do lugar em que estou, destaco uma dessas descendências: na maioria das vezes, digo que descendo de portugueses e/ou de italianos; raramente digo que descendo de negros e índios, quando o faço é porque terei alguma vantagem.
b) Meu avô paterno, filho de negros, casou-se com uma filha de índios do Paraná; meu avô materno, filho de português casado com uma espanhola, casou-se com uma filha de italianos. Sempre destaco que sou brasileiro acima de tudo, pois descendo de negros, índios e europeus. Essa afirmação ajuda-me a obter vantagens em diferentes lugares, pois a identidade brasileira tem sido assumida com clareza pelo estado e pelo povo ao longo da história.
c) Meus avós maternos são filhos de italianos e os avós paternos são filhos de imigrantes alemães. Eu casei com uma negra, mas meus filhos serão, predominantemente, brancos. Tenho orgulho dessa descendência que é predominante nas diferentes regiões do Brasil. Costumo destacar que o Brasil é diferente, é branco e negro e eu descendo de famílias italianas e alemãs, assim como meu filho. Esse traço cultural revela a grandeza do país e a firmeza de nossa identidade cultural.
d) Meu avô paterno, filho de índios do Paraná, casou-se com uma filha de índios do Rio Grande Sul; meu avô materno, filho de negros, casou-se com uma filha de negros. Gosto de afirmar que sou brasileiro, pois índios, portugueses e negros formam nossa identidade nacional.
e) Meu avô paterno, filho de poloneses, casou-se com uma filha de índios do Paraná; meu avô materno, filho de ucranianos, casou-se com uma filha de poloneses. Como sou paranaense, costumo destacar que o Paraná tem miscigenação semelhante as das outras regiões do Brasil: aqui temos índios, europeus e negros.

7
Observe os gráficos a seguir.



Com base nos gráficos e nos conhecimentos sobre o tema, considere as afirmativas a seguir:
I. Os dados sobre a divisão das concessões de Rádio e TV no Brasil indicam concentração de poder, de produção e de circulação de produtos culturais.
II. Embora a Rede Globo tenha o maior número de grupos afiliados, de audiência e de arrecadação com o mercado publicitário, a divisão equânime entre as outras redes garante a feição democrática da maior indústria cultural do Brasil.
III. O mercado dos diferentes veículos de mídia revela que mais de 60% dos jornais e 70% da audiência de TV pertencem a dois grupos, que apresentam o maior faturamento na indústria cultural nacional.
IV. Os números de grupos afiliados às grandes redes revelam diversificação, flexibilização e maior regionalização na produção dos bens culturais, e, portanto, uma tendência de fortalecimento da democratização social.
Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas corretas.
a) I e II.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.


8
Observe os quadrinhos:

(QUINO. Mafalda. São Paulo, n. 9, p. 2, 2002.)
Com base nos quadrinhos e nos conhecimentos sobre os meios de comunicação de massa (MCM), assinale a alternativa que explicita algumas posições do debate teórico sobre esse tema.
a) As reflexões da personagem Mafalda sobre as propagandas levam-na a concluir que sua mãe precisa adquirir os produtos, que as crianças podem assistir TV e brincar, dosando suas tarefas diárias, o que revela a pertinência das teorias que veem os MCM como mecanismos de integração social.
b) A personagem Mafalda obedece às ordens de sua mãe, assiste à TV e encanta-se com as promessas das propagandas, corroborando com as teorias pessimistas sobre o papel dos MCM e a passividade dos telespectadores.
c) A atitude da personagem Mafalda demonstra a crítica aos artifícios da propaganda que ressalta a magia da mercadoria, prometendo mais do que ela realmente pode oferecer, e que os sujeitos nem sempre são passivos diante dos MCM.
d) Ao sair para brincar após assistir à TV, a personagem Mafalda sente-se mais livre e feliz, pois descobriu o quanto alguns produtos anunciados pelas propagandas melhoram a vida doméstica de sua mãe, reproduzindo aspectos da cultura erudita e do modo de vida sofisticado, como acreditam as teorias “otimistas” sobre os MCM.
e) A mãe da personagem Mafalda admira-se da inteligência da filha, que compreendeu muito bem os poderes dos objetos anunciados nas propagandas de TV, reforçando as teorias sobre o papel educativo e de emancipação dos MCM.

9
“Se a pobreza é questão de direitos e conquista de cidadania, o que parece hoje estar em jogo é a possibilidade de que, neste país, se dê a construção democrática de uma noção de bem público, de interesse público e de responsabilidade pública que tenham como medida os direitos de todos. Sabemos muito bem que é esse o nó cego da tradição brasileira, construída em uma história regida por um privativismo selvagem que faz da vontade privada a medida de todas as coisas, recusa a alteridade e obstrui, por isso mesmo, a dimensão ética da vida social pela obliteração de um sentido de responsabilidade pública e obrigação social. Sabemos também que o pouco que, nessa história, o país foi capaz de construir está se erodindo por conta de uma crise do Estado, que desestrutura as referências nas quais, durante décadas, para o bem ou para o mal, se projetaram esperanças de progresso.”
TELLES, Vera da Silva. Pobreza, movimentos sociais e cultura política. In: DINIZ, E; LOPES, J; PRANDI, S.L. (Orgs.) O Brasil no Rastro da Crise. São Paulo: HUCITEC, 1994. p. 226.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre cidadania, é correto afirmar:
a) A crise do Estado favorece a efetivação da cidadania, por desestimular o privativismo e acentuar o caráter público das instituições.
b) A tradição brasileira favorece a construção da cidadania, visto que esta, como igualdade de direitos, sobrepôs-se socialmente.
c) A cidadania é um artefato humano e, como tal, precisa ser construída e assegurada por quaisquer meios que os indivíduos julgarem válidos.
d) No Brasil, a pobreza, enquanto evidência da desigualdade social, tem sido abordada por meio da consolidada noção de responsabilidade pública.
e) A falta de ações públicas que respeitem os direitos de todos constitui o que é denominado de “nó cego da tradição brasileira”.


Gabarito
01 –C
02 –B
03 – E
04 –C
05 –A
06 –A
07 –B
08 –C
09 – E

Simulado 3 sociologia

1
Relatório divulgado pelo Banco Mundial, em 2004, constata que o Brasil teria de elevar "em dez ou 15 vezes" o montante de dinheiro destinado a programas como Bolsa-Escola, a fim de equilibrar as disparidades de renda e integrar os mais pobres ao mercado. Na atual situação, de acordo com o Banco Mundial, o Brasil tem contribuído de maneira significativa para a estagnação da diminuição do número de miseráveis na América Latina. Agrava a situação o fato de que a miséria deve persistir por muito mais tempo em relação ao resto do mundo, mesmo se houver um ciclo de crescimento econômico com taxas elevadas. Essa dificuldade é acentuada pelo alto endividamento do país, que vem agindo como empecilho para a melhor redistribuição de renda. Enfim, o Banco Mundial ressalta que tanto a América Latina quanto o Brasil tem-se revelado na contramão em relação ao resto do mundo, que, nos últimos 20 anos, diminuiu pela metade o número de miseráveis. (Adaptado de: Folha de São Paulo, São Paulo, 24 abr. 2004. p. A-7.)
De acordo com o texto, é correto afirmar que, para o Banco Mundial:
a) O Brasil tem contribuído para a estagnação da pobreza mundial, em razão das altas taxas de crescimento econômico dos últimos anos.
b) A pobreza poderia ser erradicada se o Brasil e os governos da América Latina decidissem não saldar a dívida externa.
c) Taxas elevadas de crescimento econômico representam pré-condições à redução pela metade dos atuais níveis de pobreza na América Latina.
d) A redução da pobreza deriva da retração do investimento público, o que liberaria mais dinheiro para o investimento produtivo.
e) O caminho mais adequado para a redução da pobreza é o incremento dos gastos com programas sociais de caráter assistencial.

2
O trecho abaixo, de autoria de Victor Nunes Leal, encontra-se no clássico Coronelismo, Enxada e Voto, publicado em 1949.
“E assim nos parece este aspecto importantíssimo do ‘coronelismo’, que é o sistema de reciprocidade: de um lado, os chefes municipais e os ‘ coronéis’, que conduzem magotes de eleitores como quem toca tropa de burros; de outro, a situação política dominante no Estado, que dispõe do erário, dos empregos, dos favores e da força policial, que possui, em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça. É claro, portanto, que os dois aspectos – o prestígio próprio dos ‘coronéis’ e o prestígio de empréstimo que o poder público lhes outorga – são mutuamente dependentes e funcionam ao mesmo tempo como determinantes e determinados. Sem a licença do ‘coronel’ – firmada na estrutura agrária do país –, o governo não se sentiria obrigado a um tratamento de reciprocidade, e sem essa reciprocidade a liderança do ‘coronel’ ficaria sensivelmente diminuída”.
Fonte: LEAL, V. N., Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Omega, 1986, 5ª ed., p. 43.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situação social e política do país, no período em questão, assinale a alternativa correta a respeito das eleições e do sistema representativo no Brasil:
a) A troca de favores entre chefes locais e poder público é algo completamente superado pela democracia que se instaurou no Brasil nos últimos 20 anos.
b) Independentemente da estrutura social e política, a prática da troca de favores entre chefes locais e poder público continua sendo o mecanismo primordial de relacionamento político no Brasil.
c) A troca de favores entre chefes políticos locais e poder público ocorria graças aos “votos de cabresto”.
d) A troca de favores entre chefes políticos locais e poder público só acontecia porque os cidadãos lutavam por seus direitos.
e) A troca de favores entre os chefes políticos e o poder público foi a maneira encontrada por ambos para defender os interesses públicos e republicanos.

3
Karl Marx exerceu grande influência na teoria sociológica. Segundo o autor: “[...] na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção... O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social”.
Fonte: MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28.

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o autor, é correto afirmar que:
a) A superestrutura jurídica e política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade.
b) A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos líderes políticos e independe do modo de produção em dada sociedade.
c) A superestrutura política é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera jurídica depende da consciência social.
d) A superestrutura jurídica é o resultado do modo como as pessoas se organizam para produzir a subsistência material em determinada sociedade, mas a esfera política depende da consciência social.
e) A superestrutura jurídica e política é o resultado da consciência social dos homens.

4
“No passado, quando se falava em redistribuição de renda, sempre se argumentava que os pobres, com o crescimento de sua renda, tenderiam a consumir mais e, portanto, a taxa de poupança cairia. Hoje, o paradoxo é que os ricos brasileiros é que têm uma altíssima propensão a consumir. A renda não se concentra para aumentar a taxa de poupança, e sim para aumentar o consumo dos mais ricos. É escandalosa a distância, no Brasil, entre o consumidor popular e o consumidor médio e rico. Sem lugar a dúvida, essa defasagem é das maiores do mundo. Na Índia, os 20% mais ricos têm em média uma renda quatro vezes maior que a dos 20% mais pobres; no Brasil essa relação é de um para trinta e três vezes. Por outro lado, o abuso do consumo contamina as classes mais pobres, que gastam em produtos nem sempre necessários.”
Fonte: FURTADO, C.. Em Busca de Novo Modelo – reflexões sobre a crise contemporânea. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 2ª edição, p. 20.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre desigualdade social no Brasil, é correto afirmar que:
a) Na última década, o índice de desigualdade vem crescendo constantemente no Brasil.
b) Na última década observa-se, no Brasil, um aumento constante da taxa de crescimento econômico impulsionado pelo aumento do índice de desigualdade.
c) Apesar de permanecer entre os mais altos do mundo, nos últimos 15 anos observa-se, no
Brasil, uma queda do índice de desigualdade.
d) Nas duas últimas décadas o índice de desigualdade no Brasil permanece rigorosamente igual.
e) Existe uma correlação estreita entre taxa de crescimento econômico e distribuição de riqueza.

5
“Três grandes dimensões fundamentam o vínculo social. Primeiro, a complementaridade e a troca: a divisão do trabalho social cria diferenças com base na complementaridade, o que permite aumentar as trocas. Em segundo lugar, o sentimento de pertença à humanidade que nos leva a reforçar nossos vínculos com os outros seres humanos: força da linhagem, do vínculo sexual e familiar; afirmação de um destino comum da humanidade por grandes sistemas religiosos e metafísicos. Por fim, o fato de viver junto, de partilhar uma mesma cotidianidade; a proximidade surge então como produtora do vínculo social e o camponês sedentário como o ser social por excelência.”
(BOURDIN, Alain. A questão local. Rio de Janeiro: DP&A, 2001 p. 28.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:
a) A divisão do trabalho social na sociedade contemporânea desagrega os vínculos sociais.
b) Os sistemas religiosos e metafísicos são fatores de isolamento social, por resultarem de criações subjetivas dos indivíduos.
c) O cotidiano das pequenas cidades e do mundo campesino favorece a criação de vínculos sociais.
d) Pela ausência da cotidianidade, as grandes metrópoles deixaram de ser lugares de complementaridade e de trocas.
e) O forte sentimento de pertencer à humanidade desmantela a noção de comunidade e minimiza o papel da afetividade nas relações sociais.

6
O misterioso da forma da mercadoria reside no fato de que ela reflete aos homens as características sociais do seu próprio trabalho, como características objetivas dos próprios produtos do trabalho e, ao mesmo tempo, também da relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles, entre objetos.
(Adaptado: MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 71.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que, para Marx:
a) As mercadorias, por serem objetos, são destituídas de qualquer vinculação com os seus produtores.
b) As mercadorias materializam a harmonia presente na realização do trabalho alienado.
c) Os trabalhadores, independentemente da maneira como produzem a mercadoria, são alijados do processo de produção.
d) As mercadorias constituem-se em um elemento pacificador das relações entre patrões e trabalhadores.
e) A mercadoria, no contexto do modo capitalista de produção, possui caráter fetichista, refletindo os aspectos sociais do trabalho.

7
“A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele sabe, já viu, já fez. A ‘média’ é o senso-comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova [...]. Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que poderiam ter verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e de sua democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa inculta, infantil, desinformada e passiva.”
(CHAUÍ, Marilena. Filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 330-333.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre meios de comunicação e indústria cultural, considere as afirmativas a seguir.
I. Por terem massificado seu público por meio da indústria cultural, os meios de comunicação vendem produtos homogeneizados.
II. Os meios de comunicação vendem produtos culturais destituídos de matizes ideológicos e políticos.
III. No contexto da indústria cultural, por meio de processos de alienação de seu público, os meios de comunicação recriam o senso comum enquanto novidade.
IV. Os produtos culturais com efetiva capacidade de democratização da cultura perdem sua força em função do poder da indústria cultural na sociedade atual.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

Gabarito (não entregar aos alunos)
1-e
2-b
3-a
4-b
5-c
6-e
7-d

Simulado 2 sociologia

1
“Socialização significa o processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com seus folkways e mores [...]. Há pouca dúvida de que a sociedade, por suas exigências sobre os indivíduos determina, em grande parte, o tipo de personalidade que predominará. Naturalmente, numa sociedade complexa como a nossa, com extrema heterogeneidade de padrões, haverá consideráveis variações. Seria, portanto, exagerado dizer que a cultura produz uma personalidade totalmente estereotipada. A sociedade proporciona, antes, os limites dentro dos quais a personalidade se desenvolverá”.
Fonte: KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Tradução de Vera Borda, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 70-75.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:
a) Existe uma interação entre a cultura e a personalidade, o que faz com que as individualidades sejam influenciadas de diferentes modos e graus pelo ambiente social.
b) Apesar de os indivíduos se diferenciarem desde o nasci-mento por dotes físicos e mentais,
desenvolvem personalidades praticamente idênticas por conta da influência da sociedade em
que vivem.
c) A sociedade impõe, por suas exigências, aprovações e desaprovações, o tipo de personalidade que o indivíduo terá.
d) O indivíduo já nasce com uma personalidade que dificil-mente mudará por influência da sociedade ou do meio ambiente.
e) São as tendências hereditárias e não a sociedade que determinam a personalidade do indivíduo.

2
“A proteção e a promoção dos direitos humanos conti-nuaram a se situar entre as principais carências a ser enfrentadas pela sociedade civil. [...] A enumeração das principais áreas de intervenção das organizações da sociedade civil soa como demandas de séculos passados: a ausência do estado de direito e a inacessibilidade do sistema judiciário para as nãoelites; o racismo estrutural e a discriminação racial e a impunidade dos agentes do Estado envolvidos em graves violações aos direitos humanos. Como vimos, a nova democracia continuou a ser afetada por um ‘autoritarismo socialmente implantado’, uma combinação de elementos presentes na cultura política do Brasil, valores e ideologia, em parte engendrados pela ditadura militar, expressos na vida cotidiana. Muitos desses elementos estão configurados em instituições cujas raízes datam da década de 30.”
Fonte: PINHEIRO, P. S. Transição Política e Não-Estado de Direito na República. In: WILHEIM, J. e PINHEIRO, P. S. (org.).

Brasil – um século de transformações. São Paulo: Com-panhia das Letras, 2003, p. 296-297.
Em relação à violência, analise o texto anterior e seleci-one a alternativa que corresponde à idéia desenvolvida pelo autor:
a) A democracia brasileira é fortemente responsável pelo surgimento de uma cultura da violência no Brasil.
b) Muito mais do que os traços culturais, é o desenvolvimento econômico que acarreta o desrespeito aos direitos humanos no Brasil.
c) Com a democratização, as não-elites brasileiras finalmente tiveram pleno acesso ao sistema judiciário e aos direitos próprios do Estado de Direito.
d) Historicamente, o desrespeito aos direitos humanos afeta de modo igual a brancos e negros, ricos e pobres.
e) A violência no Brasil expressa-se na vida cotidiana e, para ser superada, depende de ações da sociedade civil.

3
De acordo com Octavio Ianni:
“Para melhor compreender o processo de estratificação social, enquanto processo estrutural, convém partirmos do princípio. Isto é, precisamos compreender que a maneira pela qual se estratifica uma sociedade depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente”.
Fonte: IANNI, O. Estrutura e História. In IANNI, Octavio (org). Teorias da Estratificação Social: leitura de sociologia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978, p. 11.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre estratifi-cação social, considere as afirmativas a seguir:
I. Os estamentos são formas de estratificação baseadas em categorias socioculturais como tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo.
II. As classses sociais são formas de estratificação basea-das em renda, religião, raça e hereditariedade.
III. As mudanças sociais estruturais ocorrem quando há mudanças significativas na organização da produção e na divisão social do trabalho.
IV. As castas são formas de estratificação social baseadas na propriedade dos meios de produção e da força de trabalho.
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) I, II e IV
e) II, III e IV

4
Segundo Braverman:
O mais antigo princípio inovador do modo capitalista de produção foi a divisão manufatureira do trabalho [...] A divisão do trabalho na indústria capitalista não é de modo algum idêntica ao fenômeno da distribuição de tarefas, ofícios ou especialidades da produção [...].
(BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista. Tradução Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. p. 70.)

O que difere a divisão do trabalho na indústria capitalista das formas de distribuição anteriores do trabalho?
a) A formação de associações de ofício que criaram o trabalho assalariado e a padronização de processos industriais.
b) A realização de atividades produtivas sob a forma de unidades de famílias e mestres, o que aumenta a produtivi-dade do trabalho e a independência individual de cada trabalhador.
c) O exercício de atividades produtivas por meio da divisão do trabalho por idade e gênero, o que leva à exclusão das mulheres do mercado de trabalho.
d) O controle do ritmo e da distribuição da produção pelo trabalhador, o que resulta em mais riqueza para essa parcela da sociedade.
e) A subdivisão do trabalho de cada especialidade produtiva em operações limitadas, o que conduz ao aumento da produtividade e à alienação do trabalhador.

5
A desigualdade é um problema histórico que se manifesta em diversos aspectos da estrutura social brasileira. Analise o gráfico a seguir sobre o rendimento médio real mensal dos negros e não negros nas Regiões Metropolitanas e Distrito Federal – Biênio 2004/2005.
( Grafico)
Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, TEM/FAT e convênios regionais. PED-Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE Obs: a) Cor negra = pretos + pardos. Cor não-negra = brancos + amarelos b) Inflatores utiliza-dos: IPCA-BH/IPEA, INPC-DF-IBGE, IPC-IEPE/RS, INPC-RMR/PE, IPC-SEI/BA, ICV- DIEESE/SP c) Exclusive os assalariados e os empregados domésticos mensalistas que não tiveram remuneração no mês, os trabalharo-res familiares sem remuneração salarial e os empregados que receberam exclusivamente em espécie ou benefício. d) Dados apurados entre janeiro de 2004 e setembro de 2005.

De acordo com os dados sobre as diferenças entre o rendimento médio de negros e não-negros nas regiões metropolitanas do Brasil, assinale a alternativa correta:
a) O Distrito Federal apresenta a maior diferença de rendi-mentos entre negros e não-negros em comparação às demais regiões metropolitanas.
b) Nas regiões metropolitanas industrializadas, a diferença entre o rendimento médio de não-negros e negros é menor do que nas regiões não industrializadas.
c) Nas regiões metropolitanas do Sudeste, a diferença entre o rendimento médio de não-negros e negros é menor do que nas regiões metropolitanas do Sul.
d) Nas regiões metropolitanas de São Paulo e Salvador, negros recebem aproximadamente 50% do rendimento médio de um não-negro.
e) Nas regiões metropolitanas do Sudeste, a diferença entre o rendimento médio de não-negros e negros é menor do que nas regiões metropolitanas do Nordeste.

6
- Em relação ao processo de formação social no Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes escreveu:
“Lembremo-nos de que da vinda da Família Real, em 1808, da abertura dos portos e da Independência, à Aboli-ção em 1888, à Proclamação da República e à “revolução liberal”, em 1930, decorrem 122 anos, um processo de longa duração, que atesta claramente como as coisas se passaram. Esse quadro sugere, desde logo, a resposta à pergunta: a quem beneficia a mudança social?”
Fonte: FERNANDES, F. As Mudanças Sociais no Brasil. In IANNI, Octavio (org) Florestan Fernandes: coleção grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1986, p. 155-156.

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o tema, em relação à indagação feita pelo autor, é correto afirmar que a mudança social beneficiou:
a) Fundamentalmente os trabalhadores, uma vez que as liberdades políticas e as novas formas de trabalho aumentaram a renda.
b) Os grupos sociais que dispunham de capacidade econô-mica e poder político para absorver os efeitos construtivos das alterações ocorridas na estrutura social.
c) A elite monárquica, pois ao monopolizar o poder político impediu que outros grupos sociais pudessem surgir e ter acesso aos efeitos construtivos das alterações na estrutura social.
d) Os grupos sociais marginalizados ou excluídos, pois, em decorrência deste processo, passaram a fazer parte do processo produtivo.
e) A população negra, uma vez que a alteração na estrutura da sociedade criou novas oportunidades de inserção social.

7
“O processo de integração econômica dos próximos decênios, se por um lado exigirá a ruptura de formas arcaicas de aproveitamento de recursos em certas regiões, por outro requererá uma visão de conjunto do apro-veitamento de recursos e fatores no país. A oferta crescente de alimentos nas zonas urbanas, exigidas pela industrialização, a incorporação de novas terras e os translados inter-regionais de mão-de-obra, são aspectos de um mesmo problema de redistribuição geográfica de fatores. Na medida em que avance essa redistribuição, a incorporação de novas terras e recursos naturais permitirá um aproveitamento mais racional da mão-de-obra disponível no país, mediante menores inversões de capital por unidade de produto”.
( FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1980. p. 242.)

De acordo com o texto, é correto afirmar que o autor se refere à relação entre:
a) Modernização, trabalho e capitalismo.
b) Diversidade cultural, imigração e monocultura.
c) Blocos econômicos, agroindústria e concentração de renda.
d) Latifúndio, produção em massa, empreendedorismo.
e) Renda per capita, concentração regional e agronegócio.

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A Sociologia é uma ciência moderna que surge e se desenvolve juntamente com o avanço do capitalismo. Nesse sentido, reflete suas principais transformações e procura desvendar os dilemas sociais por ele produzidos. Sobre a emergência da sociologia, considere as afirmativas a seguir.
I. A Sociologia tem como principal referência a explicação teológica sobre os problemas sociais decorrentes da indus-trialização, tais como a pobreza, a desigualdade social e a concentração populacional nos centros urbanos.
II. A Sociologia é produto da Revolução Industrial, sendo chamada de “ciência da crise”, por refletir sobre a transfor-mação de formas tradicionais de existência social e as mudanças decorrentes da urbanização e da industrialização.
III. A emergência da Sociologia só pode ser compreendida se for observada sua correspondência com o cientificismo europeu e com a crença no poder da razão e da observa-ção, enquanto recursos de produção do conhecimento.
IV. A Sociologia surge como uma tentativa de romper com as técnicas e métodos das ciências naturais, na análise dos problemas sociais decorrentes das reminiscências do modo de produção feudal.

Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e III.
b) II e III.
c) II e IV.
d) I, II e IV.
e) I, III e IV.


GABARITO
01-A
02-E
03-B
04-E
05-D
06-B
07-A
08-B

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Política / Estado

Política/ Estado
Dominação e Poder
• As sociedades sem estado.
• As várias formas de poder e dominação.
• Surgimento e desenvolvimento do Estado Moderno. Poder e representação.
• Estado nacional no mundo contemporâneo.

Política e poder
O campo da política se configura na exist6encia do conflito entre a dimensão privada e a pública, na medida em que o homem é um ser social. Essa configuração inclui a realidade da intersubjetividade, posto que a sociablidade não apaga a subjetividade , o caráter individual das singularidades.
A ação desse homem, a um só tempo pública e privada , social e individual, particular e comum, se exerce por meio de condutas não- naturais. Ao contrário , regular a ação humana é obra do homem racional , consciente e livre.

A questão do poder
Em seu significado mais geral, a palavra poder designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser referida a indivíduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenômenos naturais ( como nas expressões “poder calorífico” , “poder de absorção”)
Se o entendemos em sentido especificamente social , ou seja, na sua relação com a vida do homem em sociedade, o poder torna-se mais preciso , e seu espaço conceitual pode ir desde a capacidade geral de agir , até à capacidade do homem em determinar o comportamento do homem: poder do homem sobre o homem. O homem é não só o sujeito mas também o objeto do poder social. É poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um Governo de dar ordens aos cidadãos. Por outro lado, não é poder social a capacidade de controle que o homem tem sobre a natureza nem a utilização que faz dos recursos naturais. (...)
O poder social não é uma coisa ou a sua posse : é uma relação entre pessoas ( Stoppino, 1986: 933-4)

É impossível estudar uma sociedade sem fazer referência à política que a organizou e a manteve. Da mesma forma , não existe a possibilidade de discorrer a respeito da política sem esbarrar no conceito de poder.
Ter o poder é dispor de autoridade para governar. O poder supõe , consequentemente, a existência de dois elementos: de quem tem a autoridade para exercer o poder e daquele sobre o qual se exerce o poder; do governante e do governado; de quem manda e de quem é mandado; de quem dá as ordens e de quem as cumpre. Assim, quem detém o poder político decide , em última instância , a vida da coletividade, a nossa vida , a sua vida.
Segundo Georg W. F. Hegel ( 1770 – 1831) , o que leva o ser humano a desejar o poder não é apenas a vontade de dominar os outros homens , mas também a vontade de ser amado e reconhecido. Hegel, em seu livro Fenomenologia do Espírito, nos ensina que o homem só se torna realmente humano quando, além de satisfazer os desejos puramente animalescos - como comer e beber - , lança-se à luta pela conquista do poder. O animal tem por preocupação máxima a sobrevivência biológica; o homem, para conquistar a liberdade ( para não viver escravizado) luta pelo poder e coloca a sua vida biológica em risco. A condição humana pressupõe dominar e ser reconhecido como dominador.
A luta pelo poder tem sido, de uma forma ou de outra , a mola propulsora da história das civilizações. A história dos povos é determinada pelos grupos , pelas classes , pelos partidos, pelas personalidades que exerceram o poder.
Importante dizer aqui que o poder não nos é dado gratuitamente: ele tem de ser conquistado. E após a sua conquista , a luta continua para que ele seja mantido. Toda sociedade abriga interesses diversos e nela há governantes ( que jamais renunciam ao poder espontaneamente) e governados ( entre eles, muitos lutam para assumir o poder). Por decorrência, a luta pelo poder sempre existirá.
A luta pela conquista do poder nos tem levado , ao longo da história, as duas dimensões do ser humano: a animalidade ( quando há violência ) e a racionalidade ( quando a conquista se dá por meios pacíficos).
Quando há violência na luta pelo poder, o homem se equipara aos animais que se entredevoram para continuar sobrevivendo. Os assassinatos, as revoluções , os golpes de estado , as guerras ( internas e externas) têm constantemente manchado de sangue as páginas da história da humanidade.

John Fitzgerald Kennedy
Kennedy foi o primeiro presidente católico dos Estados Unidos da América. . Foi assassinado em Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963.

Martin Luther King
Luther King foi um dos principais dirigentes da campanha a favor do reconhecimento dos legítimos direitos dos negros nos Estados Unidos. Aconselhou a luta dentro da dignidade e da disciplina. Ganhou o Prêmio Nobel da paz em 1964. Foi assassinado em 1968.

Mahatma Gandhi
Gandhi foi a alma do movimento da independência da Índia, pregando a ação baseada no princípio da não – violência. Foi assassinado em 1948.

Júlio César
César, célebre general romano, foi um dos mais ilustres homens de guerra da Antigüidade. Foi assassinado por seu filho Brutus nos idos de março de 44 a.C.

A dimensão racional do ser humano se coloca em evidência nos processos pacíficos da luta pelo poder. Se até se pode justificar a necessidade de exercer a autoridade, colocando as tropas na rua para que se mantenha a ordem social, não é essa a condição para que o poder seja duradouro. Muito mais importante que a força física e violenta , para haver poder - poder legítimo – há necessidade de consentimento.
A luta sem violência para conquista do poder ocorre nos regimes livres - democráticos - , em que todos os homens , em princípio , são considerados iguais e, portanto, todos têm condições de participar do exercício do poder.

Apesar das deficiências que possam apresentar , as eleições são o processo mais racional de luta pacífica pela conquista do poder. Pressupondo a liberdade da defesa de ideais, do debate , da crítica, da oposição ... as eleições excluem a violência. Pela manifestação livre da vontade do povo, o voto assegura a legitimidade do poder.
Pelas eleições, num regime democrático, o poder político:
• Não é usurpado, mas consentido;
• Não é herdado nem vitalício, pois é exercido por representantes da maioria por um tempo determinado;
• Por emanar do povo em geral, não é privilégio de poucas pessoas ( de um grupo ou de uma classe), pois todos os setores da sociedade têm o direito de candidatar-se a ele;
• É transparente , porque as informações sobre as decisões governamentais devem circular livremente;
• É legítimo, pois existem leis que o asseguram.

“Alguns princípios de legitimidade do poder:
• Nos Estados Teocráticos: o poder considerado legítimo vem da vontade de Deus;
• Força da Tradição: quando o poder é transmitido de geração em geração, como nas monarquias hereditárias;
• Nos Governos Aristocráticos: apenas os melhores podem Ter funções de mando; é bom lembrar que os considerados “melhores” variam conforme o tipo de aristocracia: os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem nobre, ou, até, a elite do saber;
• Na Democracia: vem do consenso , da vontade do povo.

A discussão a respeito da legitimidade do poder é importante na medida em que está ligada à questão de que a obediência é devida apenas ao comando do poder legítimo, segundo o qual a obediência é voluntária, e portanto livre. Caso contrário , surge o direito à resist6encia , que leva à turbulência social.” ( ARANHA & MARTINS.1993: 180-1)
A antropologia evolucionista considera também que o Estado é uma simples estrutura social total, resultante do crescente domínio do político sobre o parentesco. Segundo as linhas estabelecidas por Edward Evans-Pritchard e Mayer Fortes, temos que:

• Primeiro, detecta-se a existência de sociedades dominadas pelo parentesco, onde a ausência do político, no entanto, não significaria a ausência de distinção. Trata-se de sociedades muito pequenas onde a estrutura política se confunde com a estrutura do parentesco.
• Surgem, em segundo lugar, sociedades onde o político domina o parentesco, detectando-se a existência de grupos políticos, de grupos que se definem pela base territorial. Contudo, nesta segunda fase da evolução, se o político sobrepõe ao parentesco, estes laços ainda são os dominantes. E isto porque faltam instituições especializadas, com autoridade permanente, tendo como função a manutenção da ordem social. Nestas formações sociais, ainda sem hierarquia ou autoridade, o mecanismo de equilíbrio social surge de uma liderança, ou leadership.
• Em terceiro lugar, dá-se o aparecimento de sociedades com uma autoridade centralizada, um aparelho administrativo e instituições judiciais, onde já é flagrante o domínio do político sobre o parentesco. Agora, em lugar do equilíbrio, temos a hierarquia a marcar o novo modelo organizacional. Surge também o sistema político que unifica no mesmo nível de extensão territorial os antagonistas e realiza a equivalência estrutural.

Para A. W. Southall há também um processo contínuo de complexificação institucional desde as sociedades sem Estado até aos Estados unitários, através do qual o poder se desloca para fora e acima da sociedade. Depois das sociedades sem Estado, vêm as sociedades segmentares e, só a partir de então, surgem os Estados segmentares. Dentro destes, haveria, aliás, que distinguir, numa primeira fase, a chamada chefatura, onde o poder político ainda está no seio da sociedade, para, numa segunda fase, surgir uma especialização do poder e uma estruturação piramidal. Finalmente, surgiria o Estado unitário, onde se dá a distribuição do poder através do centro, de forma hierárquica. Se Estado unitário é considerado como completamente desenvolvido, mas que nunca se realizou, já no Estado segmentar, onde há uma estrutura hierárquica de poder, notam-se as seguintes características fundamentais: — a estrutura da soberania é limitada, esbatendo-se nas regiões afastadas do centro; o governo central tem apenas um controlo relativo dos outros focos do poder; há administrações especializadas tanto no poder do centro como nos poderes das periferias; — o monopólio legítimo da força não é completo; se as relações de poder se organizam de forma piramidal, há, porém, diferentes níveis de subordinação; quanto mais periféricas são as autoridades subordinadas, mais estas têm possibilidade de mudar de obediência.

Estado Moderno: poder e representação
Durante o Período Medieval, o interior do mundo feudal europeu era politicamente fragmentado. Cada grande senhor feudal exercia em seus domínios uma autoridade quase absoluta sobre pessoas e bens. Nesse contexto, a Igreja Católica desempenhou o importante papel de órgão conciliador das elites dominantes, procurando contornar os problemas da fragmentação política e das rivalidades internas da nobreza feudal. Como os nobres eram cristãos , a Igreja procurou desviar as tensões internas do feudalismo , apontando como inimigos externos e comuns da cristandade os árabes muçulmanos.
É preciso ressaltar que, além da autoridade religiosa, a Igreja também conquistou poderes materiais para impor laços de união concreta entre nobres de diversos países, na medida em que era proprietária de aproximadamente um terço das terras cultiváveis. Assim, a Igreja estendia seu manto de poder “universalista” sobre diferentes regiões européias.
No início dos tempos modernos, assistimos a uma série de grandes transformações que atuaram na desestruturação do mundo feudal e, também, se refletiram na diminuição do poder da Igreja: a expansão comercial e marítima, o desenvolvimento da burguesia, o Renascimento e a Reforma Religiosa. Entretanto, no plano propriamente político, o início dos tempos modernos foi marcado pelo processo de fortalecimento das monarquias nacionais. Aliado a importantes setores da burguesia e, mesmo, da nobreza, os reis passaram a concentrar crescentes forças em suas mãos, enfraquecendo os poderes locais da nobreza agrária e impondo-se sobre os poderes universalistas da Igreja Católica.
No decorrer do processo de formação das monarquias nacionais, surgiu o Estado Moderno, tendo as seguintes características gerias:
• Idioma comum: um dos elementos culturais que mais influenciou o sentimento nacionalista foi a língua falada por um mesmo povo. Esse era um elemento que identificava origens, tradições e costumes comuns;
• Território definido: eliminando-se , aos poucos , a fragmentação política do mundo feudal e o predomínio das relações de vassalagem, cada Estado foi procurando definir suas fronteiras políticas , estabelecendo, enfim, o território comum da nação;
• Soberania: no mundo feudal, o poder estava baseado, em grande parte, na suserania. Aos poucos, esse conceito foi cedendo lugar à noção de soberania, pela qual o governante tinha o direito de fazer valer as decisões do Estado dentro do território nacional;
• Exército permanente: para garantir as decisões do governo soberano, era preciso a formação de exércitos permanentes, controlados pelos reis. A sociedade estava dividida entre grupos rivais da nobreza e da burguesia. O rei passou a alimentar essa divisão, enquanto foi concentrando uma grande soma de poderes em suas mãos. Assim, os reis passaram a comandar exércitos , distribuir a justiça entre os súditos, decretar leis e arrecadar tributos . essa enorme concentração de poderes em torno do rei caracterizou o absolutismo monárquico.

Vários pensadores formularam teses procurando dar fundamento teórico ao absolutismo. Entre eles, destacam-se os seguintes:
• Nicolau Maquiavel ( 1469-1527): nascido em Florença, Maquiavel foi um ativo político e hábil diplomata que defendeu a unidade italiana. É considerado um precursor da teoria política do Estado Moderno, pois pregou a construção de um Estado forte, independente da Igreja e dirigido de modo absoluto por um Príncipe dotado de inteligência e de inflexibilidade na direção dos negócios públicos. Expondo com grande franqueza e objetividade suas idéias, Maquiavel deu astutos conselhos aos governantes, rompendo com a religiosidade medieval e separando a moral individual da moral pública. Em sua célebre obra O Príncipe, escreveu que “o homem que queira em tudo agir como bom acabará arruinando-se em meio a tantos que não são bons”. Daí porque “o Príncipe deve aprender a não ser bom e a usar ou não o aprendido, de acordo com a necessidade”. O resultado das ações do Príncipe é o que conta, e não a maneira por ele utilizada para conseguir os objetivos. Assim, para Maquiavel, os fins justificam os meios. Do nome de Maquiavel surgiu o adjetivo maquiavélico, que tem o sentido figurado de pessoa astuta, matreira e ardilosa;
• Jean Bodin ( 1530-1596): jurista e filósofo francês, defendeu, em sua obra A República, o conceito do soberano perpétua e absoluto, cuja autoridade representava a vontade de Deus. Assim, todo aquele que não se submetesse à autoridade do rei deveria ser considerado um inimigo da ordem pública e do progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir um poder supremo sobre o Estado, respeitando , apenas o direito de propriedade dos súditos;
• Thomas Hobbes (1588-1679): filósofo inglês, escreveu o livro Leviatã ( o título refere-se ao monstro bíblico, citado no livro de Jó, que governava o caos primitivo), no qual compara o Estado a um monstro todo-poderoso, especialmente criado para acabar com a anarquia da sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas “ o homem era o lobo do próprio homem” , vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir sua própria sobrevivência. Só havia uma solução para dar fim à brutalidade: entregar o poder a um só homem, que seria o rei, para que ele governasse todos os demais, eliminando a desordem e dando segurança a todos.;
• Jacques Bossuet ( 1627-1704): bispo francês, reforçou a teoria da origem divina do poder do rei. Segundo Bossuet, o rei era um homem predestinado por Deus para assumir o trono e governar toda a sociedade. Por isso, não tinha que dar justificativas a ninguém de suas atitudes; somente Deus poderia julgá-las. Bossuet criou uma frase que se tornaria verdadeiro lema do Estado absolutista: “ Um rei, uma fé, uma lei”.

“Para transformar sua vida, antes de mais nada , você precisa ter vontade genuína de mudar. Claro que vai enfrentar dificuldades, pois elas fazem parte de qualquer processo de mudança”. R. SHINYASHIKI

Mudança/Transformação Social

Mudança/Transformação Social
Movimentos Sociais/ Direitos/ Cidadania
• Mudança social e revolução: diferentes abordagens teóricas.
• Mudança tecnológica e mudança social.
• Movimentos Sociais. Os direitos civis, políticos e sociais. Os direitos e a democracia.
• Os “novos” movimentos sociais contemporâneos.

Mudança Social
O ritmo da mudança social vem se acelerando dramaticamente no último século. A mudança pode ser cumulativa, mas a história das sociedades humanas revela repentinas inversões. Esse foi, particularmente , o caso na era agrária.
A mudança pode se originar de causas culturais, particularmente de:
a. Inovações tecnológicas;
b. Novas crenças ou expectativas; e
c. Difusão de sistemas de símbolos.

Tais mudanças culturais estão intimamente ligadas às mudanças nas estruturas, servindo para iniciar as mudanças na estrutura ou, no mínimo, acelerando as mudanças já iniciadas.
As estruturas sociais revelam diversas fontes importantes de mudança, incluindo:
a. desigualdade e o conflito sobre os recursos;
b. subculturas que buscam superar desvantagens; e
c. instituições que revelam processos que geram suas próprias transformações.

Processos demográficos são também um impulso para a mudança, especialmente transformações no tamanho de uma população , nos padrões de movimento populacional e em sua estrutura etária.
O estudo da mudança está no centro da análise sociológica, desde o início da disciplina até o presente. Teorias e análises foram propostas para explicar a mudança, incluindo:
a. Teorias cíclicas que enfatizam o movimento de sociedades entre os pólos opostos;
b. Análise dialética, que demonstra a dinâmica das mudanças inerentes às desigualdades;
c. Análises funcionalistas, que enfatizam a evolução das formas societárias simples para as mais complexas como um esforço correspondente para preencher novas necessidades e requisitos;
d. Perspectiva evolucionista, para a qual a desigualdade é a força motriz da evolução e mudança social; e
e. Críticas , quer “pós-industrial” quer “pós-moderna”, sobre as influências da tecnologia e sistemas de informações de ponta, na transformação da sociedade.

Movimentos sociais contemporâneos
De acordo com Ilse Scherer-Warren em seu artigo “Associativismo civil e interculturalidade na sociedade global “, na década de 1960 a 1980 uma série de novos movimentos sociais - de gênero, ecológicos, regionais, étnicos e outros - organizaram-se a partir da afirmação de identidades coletivas auto-construídas e de projetos específicos de auto-defesa. Em nome destas especificidades se exigia reconhecimento, respeito às diferenças culturais e defendiam-se novos direitos. Nos campos da pesquisa e educacional, novas áreas de conhecimento desenvolveram-se: estudos de gênero, negros, étnicos, ecológicos e similares.
A partir da segunda metade da década de 1980, e sobretudo na década de 1990, há uma crescente interação destes movimentos entre si, ou uma penetração de seus ideais em movimentos mais clássicos, como o sindical e o de moradores. As chamadas lutas específicas, contra a discriminação de gênero, racial, cultural, contra a degradação ambiental, a exclusão social, econômica e política, como, por exemplo, as campanhas contra a pobreza ou pela qualidade de vida, passam a ser consideradas relevantes no interior dos mais diversos movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Portanto, as lutas identitárias e pela autonomia cedem lugar aos movimentos sociais solidarísticos, onde a cooperação e a complementaridade passam a ser palavras de ordem. Estes princípios remetem também para o ideário de construção de uma esfera pública democrática, ampla, conectando iniciativas locais com outras mais globais. É neste contexto que a idéia de parcerias se legitima.
• No plano político, as ONGs passam a lutar por um lugar de participação na gestão da coisa pública. Surge nos cenários locais, estaduais, nacionais e internacionais um grande número de parcerias entre organizações da sociedade civil e organismos governamentais, como nos Conselhos setoriais, Fóruns especializados, Agendas 21, etc.
• No plano da cultura, para além da defesa das identidades, passa-se a valorizar a abertura à alteridade e à reciprocidade nas trocas. Duas possibilidades se colocam neste processo interativo: a da hibridação cultural, através de sincretismos, ecumenismos, etc.; a de formação de um movimento cidadão sob a forma de redes e parcerias, onde a complementaridade se constrói a partir do respeito às diferenças, não se impondo uma uniformização no trabalho cooperativo.
Monoculturalismo: tem uma visão essencialista acerca da identidade dos sujeitos coletivos. Os negros, índios e demais minorias têm suas identidades determinadas objetivamente numa realidade específica.
Multiculturalismo: as identidades são construídas historicamente. Ex.: Muito mais do que se nascer mulher ou com cor negra, torna-se mulher ou negra.
O que se denomina "construção da cidadania", é um valor cultural da modernidade, que tem uma dimensão ética e política.

Na dimensão ética encontram-se os princípios da responsabilidade e da solidariedade. Ainda que as desigualdades e as injustiças sejam legados históricos, sua reprodução no presente pode ser assumida como uma responsabilidade da humanidade.
"As injustiças do passado chegam até nós na forma de herança [...] não herdamos a culpa de quem originou a injustiça, porém sim a responsabilidade de fazer frente à injustiça passada [...] Nossa responsabilidade não se circunscreve às desigualdades de nosso Estado, mas as da humanidade". (Reys Mate, 1997, p.170).
O corolário da responsabilidade é a solidariedade. É através dela que se efetiva a responsabilidade pelo outro, em uma comunidade local ou global. Nos movimentos sociais, a solidariedade tem sido utilizada amplamente como uma interpelação aos indivíduos ou grupos para a ação comunitária ou de responsabilidade cidadã.
Estes princípios éticos operam para a construção de uma cidadania plena quando se associam a um conjunto de princípios de ordem política, a serem incorporados nas práticas associativistas.

Na dimensão política merecem ser resgatadas as noções de reconhecimento, integração, participação e a conseqüente idéia de constituição de uma esfera pública.
A negação mais absoluta destes princípios é a "exclusão" (social, cultural ou política). Muitos indivíduos ou grupos vivem numa situação de apartheid sem o reconhecimento público de si ou do grupo como parte integrante da comunidade.
A construção da cidadania, somente poderá ser concretizada na medida em que se associarem os princípios de responsabilidade e de solidariedade com os princípios de integração social de todos os tipos de minorias, de reconhecimento público das diversidades culturais e de legítima e igualitária possibilidade de participação de todos nas esferas públicas referentes que lhes dizem respeito.

1 Bibliografia
2 REYS MATE, M. "Etica y política". In: La integración y la democracia del futuro en América Latina. Caracas, Ministerio para el Enlace entre el Ejecutivo Nacional y el Congresso de la República / Nueva Sociedad, 1997.
3 SCHERER-WARREN, I. & NPMS. Organizações voluntárias de Florianópolis: cadastro e perfil do associativismo civil. Florianópolis: Insular, 1996.
4 ___________. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1998.
5 SEMPRINI, Andrea. Le multiculturalisme. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.
6 TOCQUEVILLE, A. A democracia na América. Tradução de Neil Ribeiro da Silva. São Paulo / Belo Horizonte: EDUSP/Itatiaia, 1977. (Título original: De la Démocracie en Amérique)
7 VIEIRA, L. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1997

Estrutura e Estratificação Social

Estrutura e Estratificação Social/ As desigualdades Sociais
• A relação entre a estrutura social e a estratificação: as castas, os estamentos e as classes.
• As várias formas de desigualdades sociais e a diversidade das explicações teóricas.

Estratificação Social e Estrutura de Classe

Estratificação
Processo em que os indivíduos e grupos sociais mais amplos são hierarquizados numa escala do inferior ao superior.
a) as estratificações são universais e representam a distribuição desigual de direitos e obrigações na sociedade.
b) a principal necessidade funcional da estratificação é a exigência de situar e motivar os indivíduos na estrutura social.
c) a desigualdade social não é um artifício desenvolvido inconscientemente. Sua função é estimular as pessoas a exercerem os diversos papéis necessários à sobrevivência da sociedade. (Ex: os requisitos para ser presidente são maiores do que para ser carteiro, logo, a sociedade determina como justo o salário de um ser maior que o do outro).

Fatores que determinam a estratificação
a) importância funcional diferencial: importância do cargo (médico, jurista)
b) escassez diferencial de pessoal: treinamento e talento demandados pela sociedade (empresários, cientistas)

Mobilidade Social
é um movimento significativo na posição econômica, social e política de um indivíduo ou de um estrato. Mas o que mais se estuda é a individual, já que a de estrato tem mais a ver com mobilidade social. Com isto, o conceito de mobilidade tende a mostrar que na sociedade ocidental o conflito de classes foi suprimido.

Perguntas para reflexão:
1 Essas hierarquias existem realmente ou são construções abstratas?
2 Quais os critérios utilizados para estabelecer a estratificação? Qual o peso de cada critério? Quais estão relacionados com a estrutura da sociedade?
3 Qual a unidade de estratificação: o indivíduo ou o grupo?

Posição de conflito: a sociedade de classes
a) as classes sociais constituem categorias analíticas, e os estratos constituem categorias derivativas e estáticas.
b) as classes sociais mudam no decorrer da história e surgem a partir de determinadas condições estruturais.
c) define-se as classes sociais pela relação dos homens com os meios de produção.
d) as classes não existem isoladas, mas como sistema de classes: as relações entre as classes são relações de oposição.
e) os conflitos são expressão das contradições de sistemas sócio-econômicos determinados.

Desigualdades Sociais
A desigualdade em uma sociedade gira em torno da distribuição diferenciada de recursos de valor às variadas categorias de indivíduos - sendo as de classe, étnica e gênero as três mais importantes.
A estratificação de classe existe quando a renda , poder, prestígio e outros recursos de valor são dados aos membros de uma sociedade desigualmente e quando, com base nessa desigualdade, variados grupos tornam-se cultural, comportamental e organizacionalmente distintos.
O grau de estratificação está relacionado ao nível de desigualdade, à distinção entre as classes em nível de mobilidade entre as classes e à durabilidade das classes.

Desigualdades sociais : explicações teóricas
Existem várias propostas para o estudo da estratificação:
a. Proposta marxista: enfatiza que a propriedade dos meios de produção é a causa da estratificação de classe e mobilização para o conflito, com subseqüente mudança nos padrões de estratificação;
b. Proposta weberiana : enfatiza a natureza multidimensional da estratificação ( que gira em torno não apenas da classe, mas de partido e grupos de status também);
c. Proposta funcionalista: argumenta que a desigualdade reflete o sistema de recompensa para encorajar os indivíduos a ocupar posições funcionalmente importantes e difíceis de preencher;
d. Proposta evolucionista: argumenta que, a longo prazo, partindo das sociedades de caça e coleta, as desigualdades aumentaram , como refletem as sociedades modernas.
A estratificação nos Estados Unidos e no Brasil é marcada por altos níveis de desigualdade com respeito a bem-estar material e prestígio. A desigualdade na distribuição de poder é mais ambígua. Fronteiras obscuras entre as classes sociais próximas existem nos Estados Unidos. A mobilidade é freqüente, mas a maioria das pessoas não consegue grande mobilidade durante sua vida.

Estratificação étnica
Etnia é a identificação de um grupo como distinto em termos da biologia superficial, recursos, comportamento, cultura ou organização; e a estratificação étnica existe quando alguns grupos étnicos conseguem mais recursos de valor em uma sociedade do que outros grupos étnicos.
A estratificação étnica é criada e sustentada pela discriminação que é legitimada pelas crenças preconceituosas. A discriminação e o preconceito são embasados pela ameaça ( econômica, política, social) apresentada de forma real ou imaginária por um grupo étnico-alvo e são ainda sustentados pelos ciclos de reforço que giram em torno da identificação étnica, ameaça, preconceito e discriminação.

Estratificação de gênero
O gênero é a diferenciação entre homens e mulheres em termos de características culturalmente definidas e status na sociedade. A estratificação de gênero existe quando os homens e as mulheres em uma sociedade recebem efetivamente parcelas desiguais de dinheiro, poder, prestígio e outros recursos.
A estratificação de gênero é sustentada pelos ciclos de socialização, que se reforçam mutuamente pela identidade de gênero e por crenças relacionadas ao gênero, que, por sua vez, se tornam a base para discriminação e crenças preconceituosas, frutos da ameaça ressentida pelos homens.
As relações de gênero estão mudando nos Estados Unidos, visto que esses ciclos estão sendo quebrados pela participação das mulheres no trabalho e na política e pelos ataques às crenças que colocam as mulheres em desvantagem.

Nosso país também é marcado por uma grande desigualdade social: poucos tem muito, muitos tem pouco.
Uma sociedade visivelmente heterogênea, onde nos vidros de carros importados, crianças passando fome se refletem. Os problemas são muitos mas as soluções são quase inexistentes.
O desemprego no Brasil, uma das grandes causas dessa desigualdade vem aumentando. De acordo com o IBGE o índice que em dezembro de 99 era de 6,3% começou o ano 2000 em 7,6% . Muitos dos que já se encontram no mercado de trabalho se submetem a salários de verdadeira miséria. O salário mínimo que nesse ano de 2000 completa 60 anos é um dos mais baixos do Mercosul, pois seus R$ 136,00 só ficam a frente dos salários do Uruguai e Bolívia. Vinte por cento
dos trabalhadores e sessenta por cento dos aposentados recebem somente um salário mínimo por mês. Enquanto o governo estuda um irrisório aumento para o mínimo, o teto salarial dos funcionários públicos chega às alturas, aumentando as diferenças sociais já existentes.
Somam-se a estes fatores o enorme descaso com as crianças que em grande número trocam as salas de aula pelo subemprego, segundo o IBGE 92,18% destas crianças não recebem nenhum rendimento. Só em Santa Catarina já são 99 mil menores entre 10 e 14 anos trabalhando na produção de calçados, olarias e madeireiras. Sabendo que 2,9 milhões de crianças entre 9 e 14 em todo o Brasil trabalham para ajudar a família o governo criou o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) onde cada família que retirar sua criança da atividade e levar à escola recebe R$40,00. Felizmente vem ocorrendo uma queda do anafalbetismo no país mas no nordeste, onde as desigualdades são maiores, 40% dos adolescentes na faixa de 15 a 17 anos têm menos de 4 anos de estudo.

Texto para reflexão:
Todos os homens são iguais
Dimas Floriani
O grande debate que os padres dominicanos espanhóis travavam entre si, durante o século XVI, era se os indígenas da América possuíam ou não alma. Rei Bartolomeo de las Casas, apelidado de “defensor dos povos indígenas”, apoiava fervorosamente o princípio de Direito Natural que afirmava “serem todos os homens iguais perante Deus”. Ora , este princípio era uma declaração de importância fundamental para proteger os indígenas da matança indiscriminada praticada pelos espanhóis e portugueses; reconhecia, assim, que os povos indígenas pertenciam à espécie humana e eram, portanto, portadores de uma alma. Nesse sentido, poderiam ser catequizados em nome da verdade divina e da fé cristã e eram reconhecidos como humanos, contrariamente às teses de outros teólogos que não reconheciam neles uma condição humana, não sendo pecado escravizá-los nem exterminá-los.
O princípio da igualdade dos seres humanos, perante Deus, foi um importante passo para que dois séculos após se declarasse como inalienável, inegociável e fundamental o princípio da igualdade entre os homens. As revoluções norte-americanas ( 1778) e francesa ( 1789) consagrariam esse princípio nos termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Apenas substituíram o argumento de fundo, que dava suporte e legitimidade ao princípio , isto é, humanizando a referência da igualdade, não mais em nome de Deus, mas em nome da Lei ( “todos os homens são iguais perante a lei”). E esta lei deveria ser garantida pelo Contrato Social que os homens selariam entre si, em sociedade, abdicando parcialmente de sua liberdade, em nome da proteção e da segurança das instituições públicas, ou seja, do Estado de Direito.
Devemos distinguir, portanto, dois aspectos ligados à questão da igualdade: o primeiro, de caráter político-filosófico; o segundo, de natureza socioeconômica.
Não se pode deixar de mencionar uma dimensão histórica, como pano de fundo, em relação a princípio de igualdade. Não se deve esquecer de que a emergência da sociedade industrial foi impulsionada pelo surgimento de uma nova classe social, a burguesia, defensora de valores e princípios, tais como:
• a liberdade de pensamento, de credo e de filiação política ( a filosofia iluminista e o racionalismo eram os principais apoios);
• a liberdade de comercializar, de trabalhar, de vender e comprar a força de trabalho no mercado;
• a liberdade de ir e vir;
• o direito à igualdade social, sem distinção de origem social, e à crítica ao privilégio social que diferenciava os homens em função de pertencerem a uma elite.

Do ponto de vista socioeconômico, porém a sociedade de classes dificulta, concretamente, a realização da igualdade entre os indivíduos de uma mesma sociedade que se rebelou, justamente , contra a desigualdade social? Porque, do ponto de vista do acesso aos bens materiais, há uma série de facilidades para alguns indivíduos ( dotados de capital, de poder e de títulos escolares) e de dificuldades para outros alcançarem o topo do sistema ( uma vez que não são detentores de capital, nem de poder e de títulos escolares).
A contradição entre a declaração teórica da desigualdade e as dificuldades práticas, de realização para todos , está presente ainda nas atuais sociedades de classe. A frase de George Orwell, em seu livro “A Revolução dos Bichos”, não é apenas válida para as sociedades socialistas, mas igualmente para as capitalistas, a saber: “Todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”.
(Dr Dimas Floriani é professor da UFPR)

Bibliografia
• BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977
• BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)
• GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.
• POSITIVO, apostila seg. série - ens. médio
• SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.
• TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

Indivíduo, Identidade e Socialização

Indivíduo, Identidade e Socialização
• A questão da identidade nas várias sociedades
• A emergência do indivíduo/individualidade e do individualismo
• A diversidade do processo de socialização
• A questão da família e da escola na formação do indivíduo

Indivíduo
“Indivíduo ou ser individual significa o portador ou sujeito concreto de uma essência em sua peculiaridade não – comunicável. De indivíduo deriva individuação, termo que designa a determinabilidade individual, ou seja, aquilo que faz com que este indivíduo seja precisamente este e se distinga de todos os outros, por exemplo: este determinado ser – Pedro. “
( BRUGGER, 1977, p. 230)
Durkheim em termos de representações coletivas e instituições trata de separar o social do individual como duas esferas independentes da realidade humana. Para ele, “ a sociedade não é mera soma de indivíduos ; ao contrário , o sistema formado por sua associação representa uma realidade específica que tem suas próprias características “, e é “na natureza dessa individualidade (...) que se deveriam buscar as causas imediatas e determinantes dos fatos que lá aparecem”. A referência aos fenômenos de “ síntese criadora “ na natureza serve-lhe para comprovar , por analogia, a separação entre os dois níveis de realidade.

Individualismo
De acordo com BRUGGER , este termo designa :
1. a acentuação do valor da personalidade do homem, o cultivo e desdobramento da mesma, em oposição ao gregarismo humano , à massificação”; e isto entendido em sentido lato, isto é, não só da personalidade individual, mas também de famílias e de outros grupos valiosos , nos quais se cultiva e frutifica a consciência da própria classe e do próprio valor;
2. a superacentuação do indivíduo ou de grupos particulares;
3. uma concepção de sociedade que realça o indivíduo a o ponto de reduzir a sociedade a uma soma de entes individuais.

Identidade
“A identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos específicos do indivíduo) e/ou identidade social (atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias).” (Jacques,1998, p. 161).
Os termos identidade e social sugerem, respectivamente, um conceito que "explique por exemplo o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu..." (Brandão, 1990 p.37) privilegiando, de um lado, o indivíduo, e de outro lado, a coletividade, resultando numa configuração na qual se capta o homem inserido na sociedade, bem como à dinâmica das relações sociais. A importância dessa relação pode ser melhor compreendida nessa citação de Marx (1978a, p.9) “ A sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza”.
Hamelink (1989) refere que a identidade diz respeito a uma cultura determinada e opõe este conceito ao de identidade cultural. A identidade de uma cultura referir-se-á às características que se podem atribuir a uma cultura determinada, enquanto a identidade cultural são as características que um indivíduo ou grupo atribui pelo fato de sentir que pertence a uma cultura definida.
Ibáñez (1990) considera a identidade a nível individual. Assim a identidade pessoal é basicamente produzida pela cultura ou sub-culturas que nos socializam enquanto a identidade cultural é estabelecida com base no sentido de pertença à comunidade.
A investigação sobre a identidade revela uma forma de conhecimento de nós próprios que repousa sobre a interpretação da imagem que os outros têm de nós e que serve para consolidar a que nós fazemos de nós próprios

Socialização
A socialização é um tipo específico de interação - que molda a natureza da personalidade humana e, por sua vez , o comportamento humano, a interação e a participação na sociedade. Sem socialização, nem os homens sem a sociedade seriam possíveis.
São facilmente perceptíveis as diferenças de costumes que existem de uma sociedade para outra. Os primeiros pensadores sociais apontaram, com certa razão, que estes costumes são diferentes em parte por causa da própria diferença entre os meios físicos em que se encontram as sociedades: em um ambiente de clima frio, as pessoas usarão mais roupas e provavelmente ficarão menos tempo fora de suas casas; em um local com alimentos abundantes elas poderão trabalhar menos e não terão de competir por comida. Mas como explicar, através desta idéia de determinismo físico, que em certos lugares a manipulação da comida seja feita com dois pauzinhos, em outros com diversos talheres e ainda em outros com as próprias mãos? Estas diferenças são resultados não da adaptação da sociedade ao meio, mas da adequação dos indivíduos à vida em sociedade. É a este processo de integração de cada pessoa aos costumes preexistentes que damos o nome da socialização.
De maneira mais completa, define-se socialização como a internalização de idéias e valores estabelecidos coletivamente e a assimilação de papéis e de comportamentos socialmente desejáveis. Significa, portanto, a incorporação de cada homem a uma identidade maior que a individual: no caso, a incorporação do homem à sociedade. É importante associar de maneira correta a socialização à cultura: esta se encontra profundamente ligada à estrutura social, enquanto que a socialização pode ser resumida à transmissão de padrões culturais.
O processo de socialização por excelência é a educação. Mas não somente aquela que adquirimos na escola, a denominada educação formal que consiste, entre outros conhecimentos, no aprendizado da língua e da história do próprio povo. Há uma outra educação, que aprendemos apenas no próprio convívio com as outras pessoas e que corresponde ao modo como devemos agir em momentos-chave da nossa vida. É a socialização através da família, dos amigos e até mesmo de desconhecidos. As famílias ensinam, a título de exemplo, quais das suas necessidades devem ser atendidas pelo pai e quais devem ser atendidas pela mãe. Com os amigos aprendemos os princípios da solidariedade e a importância da prática de esportes. Com desconhecidos podemos aprender a aguardar a nossa vez em fila, sem atropelos, e a não falar alto em locais como o teatro ou a sala de aula. Outro exemplo claro é o caso de um homem que muda de país e que tem de aprender o idioma e as normas da nova sociedade em que se encontra, isto é, os padrões segundo os quais seus membros se relacionam (v. Relação Social).
Vista dessa maneira, a socialização pode ser interpretada como condicionadora das atitudes e, portanto, como uma expressão da coerção social. Mas a socialização, justamente por se realizar de maneira difusa e fragmentada por diferentes processos, deixa alguns espaços de ação livres para a iniciativa individual espontânea, como a escolha dos amigos, do local onde deseja-se morar ou da atividade que se quer exercer.
Se existem diferentes processos de socialização, tanto entre sociedades quanto dentro de uma mesma, é possível atribuir a eles limites e graduações. A socialização na esfera econômica induz ao trabalho, mas não a que tipo de trabalho. Aprende-se a respeitar os mais velhos, mas nada impede a repreensão de um setuagenário que solte baforadas de charuto em alguém. Há a possibilidade de identificarmos indivíduos mais ou menos socializados, isto é, mais ou menos integrados aos padrões sociais. Uma pessoa pode ser um ótimo arquiteto, ao mesmo tempo em que é alcoólatra. Uma pessoa pouco socializada não absorveu completamente os princípios que regem a sociedade, causando freqüentemente transtornos aos que estão à sua volta.

Bibliografia
• BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977
• BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)
• GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.
• SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.
• TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.