sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Indivíduo, Identidade e Socialização

Indivíduo, Identidade e Socialização
• A questão da identidade nas várias sociedades
• A emergência do indivíduo/individualidade e do individualismo
• A diversidade do processo de socialização
• A questão da família e da escola na formação do indivíduo

Indivíduo
“Indivíduo ou ser individual significa o portador ou sujeito concreto de uma essência em sua peculiaridade não – comunicável. De indivíduo deriva individuação, termo que designa a determinabilidade individual, ou seja, aquilo que faz com que este indivíduo seja precisamente este e se distinga de todos os outros, por exemplo: este determinado ser – Pedro. “
( BRUGGER, 1977, p. 230)
Durkheim em termos de representações coletivas e instituições trata de separar o social do individual como duas esferas independentes da realidade humana. Para ele, “ a sociedade não é mera soma de indivíduos ; ao contrário , o sistema formado por sua associação representa uma realidade específica que tem suas próprias características “, e é “na natureza dessa individualidade (...) que se deveriam buscar as causas imediatas e determinantes dos fatos que lá aparecem”. A referência aos fenômenos de “ síntese criadora “ na natureza serve-lhe para comprovar , por analogia, a separação entre os dois níveis de realidade.

Individualismo
De acordo com BRUGGER , este termo designa :
1. a acentuação do valor da personalidade do homem, o cultivo e desdobramento da mesma, em oposição ao gregarismo humano , à massificação”; e isto entendido em sentido lato, isto é, não só da personalidade individual, mas também de famílias e de outros grupos valiosos , nos quais se cultiva e frutifica a consciência da própria classe e do próprio valor;
2. a superacentuação do indivíduo ou de grupos particulares;
3. uma concepção de sociedade que realça o indivíduo a o ponto de reduzir a sociedade a uma soma de entes individuais.

Identidade
“A identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos específicos do indivíduo) e/ou identidade social (atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias).” (Jacques,1998, p. 161).
Os termos identidade e social sugerem, respectivamente, um conceito que "explique por exemplo o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu..." (Brandão, 1990 p.37) privilegiando, de um lado, o indivíduo, e de outro lado, a coletividade, resultando numa configuração na qual se capta o homem inserido na sociedade, bem como à dinâmica das relações sociais. A importância dessa relação pode ser melhor compreendida nessa citação de Marx (1978a, p.9) “ A sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza”.
Hamelink (1989) refere que a identidade diz respeito a uma cultura determinada e opõe este conceito ao de identidade cultural. A identidade de uma cultura referir-se-á às características que se podem atribuir a uma cultura determinada, enquanto a identidade cultural são as características que um indivíduo ou grupo atribui pelo fato de sentir que pertence a uma cultura definida.
Ibáñez (1990) considera a identidade a nível individual. Assim a identidade pessoal é basicamente produzida pela cultura ou sub-culturas que nos socializam enquanto a identidade cultural é estabelecida com base no sentido de pertença à comunidade.
A investigação sobre a identidade revela uma forma de conhecimento de nós próprios que repousa sobre a interpretação da imagem que os outros têm de nós e que serve para consolidar a que nós fazemos de nós próprios

Socialização
A socialização é um tipo específico de interação - que molda a natureza da personalidade humana e, por sua vez , o comportamento humano, a interação e a participação na sociedade. Sem socialização, nem os homens sem a sociedade seriam possíveis.
São facilmente perceptíveis as diferenças de costumes que existem de uma sociedade para outra. Os primeiros pensadores sociais apontaram, com certa razão, que estes costumes são diferentes em parte por causa da própria diferença entre os meios físicos em que se encontram as sociedades: em um ambiente de clima frio, as pessoas usarão mais roupas e provavelmente ficarão menos tempo fora de suas casas; em um local com alimentos abundantes elas poderão trabalhar menos e não terão de competir por comida. Mas como explicar, através desta idéia de determinismo físico, que em certos lugares a manipulação da comida seja feita com dois pauzinhos, em outros com diversos talheres e ainda em outros com as próprias mãos? Estas diferenças são resultados não da adaptação da sociedade ao meio, mas da adequação dos indivíduos à vida em sociedade. É a este processo de integração de cada pessoa aos costumes preexistentes que damos o nome da socialização.
De maneira mais completa, define-se socialização como a internalização de idéias e valores estabelecidos coletivamente e a assimilação de papéis e de comportamentos socialmente desejáveis. Significa, portanto, a incorporação de cada homem a uma identidade maior que a individual: no caso, a incorporação do homem à sociedade. É importante associar de maneira correta a socialização à cultura: esta se encontra profundamente ligada à estrutura social, enquanto que a socialização pode ser resumida à transmissão de padrões culturais.
O processo de socialização por excelência é a educação. Mas não somente aquela que adquirimos na escola, a denominada educação formal que consiste, entre outros conhecimentos, no aprendizado da língua e da história do próprio povo. Há uma outra educação, que aprendemos apenas no próprio convívio com as outras pessoas e que corresponde ao modo como devemos agir em momentos-chave da nossa vida. É a socialização através da família, dos amigos e até mesmo de desconhecidos. As famílias ensinam, a título de exemplo, quais das suas necessidades devem ser atendidas pelo pai e quais devem ser atendidas pela mãe. Com os amigos aprendemos os princípios da solidariedade e a importância da prática de esportes. Com desconhecidos podemos aprender a aguardar a nossa vez em fila, sem atropelos, e a não falar alto em locais como o teatro ou a sala de aula. Outro exemplo claro é o caso de um homem que muda de país e que tem de aprender o idioma e as normas da nova sociedade em que se encontra, isto é, os padrões segundo os quais seus membros se relacionam (v. Relação Social).
Vista dessa maneira, a socialização pode ser interpretada como condicionadora das atitudes e, portanto, como uma expressão da coerção social. Mas a socialização, justamente por se realizar de maneira difusa e fragmentada por diferentes processos, deixa alguns espaços de ação livres para a iniciativa individual espontânea, como a escolha dos amigos, do local onde deseja-se morar ou da atividade que se quer exercer.
Se existem diferentes processos de socialização, tanto entre sociedades quanto dentro de uma mesma, é possível atribuir a eles limites e graduações. A socialização na esfera econômica induz ao trabalho, mas não a que tipo de trabalho. Aprende-se a respeitar os mais velhos, mas nada impede a repreensão de um setuagenário que solte baforadas de charuto em alguém. Há a possibilidade de identificarmos indivíduos mais ou menos socializados, isto é, mais ou menos integrados aos padrões sociais. Uma pessoa pode ser um ótimo arquiteto, ao mesmo tempo em que é alcoólatra. Uma pessoa pouco socializada não absorveu completamente os princípios que regem a sociedade, causando freqüentemente transtornos aos que estão à sua volta.

Bibliografia
• BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977
• BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)
• GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.
• SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.
• TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

Um comentário: