Mudança/Transformação Social
Movimentos Sociais/ Direitos/ Cidadania
• Mudança social e revolução: diferentes abordagens teóricas.
• Mudança tecnológica e mudança social.
• Movimentos Sociais. Os direitos civis, políticos e sociais. Os direitos e a democracia.
• Os “novos” movimentos sociais contemporâneos.
Mudança Social
O ritmo da mudança social vem se acelerando dramaticamente no último século. A mudança pode ser cumulativa, mas a história das sociedades humanas revela repentinas inversões. Esse foi, particularmente , o caso na era agrária.
A mudança pode se originar de causas culturais, particularmente de:
a. Inovações tecnológicas;
b. Novas crenças ou expectativas; e
c. Difusão de sistemas de símbolos.
Tais mudanças culturais estão intimamente ligadas às mudanças nas estruturas, servindo para iniciar as mudanças na estrutura ou, no mínimo, acelerando as mudanças já iniciadas.
As estruturas sociais revelam diversas fontes importantes de mudança, incluindo:
a. desigualdade e o conflito sobre os recursos;
b. subculturas que buscam superar desvantagens; e
c. instituições que revelam processos que geram suas próprias transformações.
Processos demográficos são também um impulso para a mudança, especialmente transformações no tamanho de uma população , nos padrões de movimento populacional e em sua estrutura etária.
O estudo da mudança está no centro da análise sociológica, desde o início da disciplina até o presente. Teorias e análises foram propostas para explicar a mudança, incluindo:
a. Teorias cíclicas que enfatizam o movimento de sociedades entre os pólos opostos;
b. Análise dialética, que demonstra a dinâmica das mudanças inerentes às desigualdades;
c. Análises funcionalistas, que enfatizam a evolução das formas societárias simples para as mais complexas como um esforço correspondente para preencher novas necessidades e requisitos;
d. Perspectiva evolucionista, para a qual a desigualdade é a força motriz da evolução e mudança social; e
e. Críticas , quer “pós-industrial” quer “pós-moderna”, sobre as influências da tecnologia e sistemas de informações de ponta, na transformação da sociedade.
Movimentos sociais contemporâneos
De acordo com Ilse Scherer-Warren em seu artigo “Associativismo civil e interculturalidade na sociedade global “, na década de 1960 a 1980 uma série de novos movimentos sociais - de gênero, ecológicos, regionais, étnicos e outros - organizaram-se a partir da afirmação de identidades coletivas auto-construídas e de projetos específicos de auto-defesa. Em nome destas especificidades se exigia reconhecimento, respeito às diferenças culturais e defendiam-se novos direitos. Nos campos da pesquisa e educacional, novas áreas de conhecimento desenvolveram-se: estudos de gênero, negros, étnicos, ecológicos e similares.
A partir da segunda metade da década de 1980, e sobretudo na década de 1990, há uma crescente interação destes movimentos entre si, ou uma penetração de seus ideais em movimentos mais clássicos, como o sindical e o de moradores. As chamadas lutas específicas, contra a discriminação de gênero, racial, cultural, contra a degradação ambiental, a exclusão social, econômica e política, como, por exemplo, as campanhas contra a pobreza ou pela qualidade de vida, passam a ser consideradas relevantes no interior dos mais diversos movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Portanto, as lutas identitárias e pela autonomia cedem lugar aos movimentos sociais solidarísticos, onde a cooperação e a complementaridade passam a ser palavras de ordem. Estes princípios remetem também para o ideário de construção de uma esfera pública democrática, ampla, conectando iniciativas locais com outras mais globais. É neste contexto que a idéia de parcerias se legitima.
• No plano político, as ONGs passam a lutar por um lugar de participação na gestão da coisa pública. Surge nos cenários locais, estaduais, nacionais e internacionais um grande número de parcerias entre organizações da sociedade civil e organismos governamentais, como nos Conselhos setoriais, Fóruns especializados, Agendas 21, etc.
• No plano da cultura, para além da defesa das identidades, passa-se a valorizar a abertura à alteridade e à reciprocidade nas trocas. Duas possibilidades se colocam neste processo interativo: a da hibridação cultural, através de sincretismos, ecumenismos, etc.; a de formação de um movimento cidadão sob a forma de redes e parcerias, onde a complementaridade se constrói a partir do respeito às diferenças, não se impondo uma uniformização no trabalho cooperativo.
Monoculturalismo: tem uma visão essencialista acerca da identidade dos sujeitos coletivos. Os negros, índios e demais minorias têm suas identidades determinadas objetivamente numa realidade específica.
Multiculturalismo: as identidades são construídas historicamente. Ex.: Muito mais do que se nascer mulher ou com cor negra, torna-se mulher ou negra.
O que se denomina "construção da cidadania", é um valor cultural da modernidade, que tem uma dimensão ética e política.
Na dimensão ética encontram-se os princípios da responsabilidade e da solidariedade. Ainda que as desigualdades e as injustiças sejam legados históricos, sua reprodução no presente pode ser assumida como uma responsabilidade da humanidade.
"As injustiças do passado chegam até nós na forma de herança [...] não herdamos a culpa de quem originou a injustiça, porém sim a responsabilidade de fazer frente à injustiça passada [...] Nossa responsabilidade não se circunscreve às desigualdades de nosso Estado, mas as da humanidade". (Reys Mate, 1997, p.170).
O corolário da responsabilidade é a solidariedade. É através dela que se efetiva a responsabilidade pelo outro, em uma comunidade local ou global. Nos movimentos sociais, a solidariedade tem sido utilizada amplamente como uma interpelação aos indivíduos ou grupos para a ação comunitária ou de responsabilidade cidadã.
Estes princípios éticos operam para a construção de uma cidadania plena quando se associam a um conjunto de princípios de ordem política, a serem incorporados nas práticas associativistas.
Na dimensão política merecem ser resgatadas as noções de reconhecimento, integração, participação e a conseqüente idéia de constituição de uma esfera pública.
A negação mais absoluta destes princípios é a "exclusão" (social, cultural ou política). Muitos indivíduos ou grupos vivem numa situação de apartheid sem o reconhecimento público de si ou do grupo como parte integrante da comunidade.
A construção da cidadania, somente poderá ser concretizada na medida em que se associarem os princípios de responsabilidade e de solidariedade com os princípios de integração social de todos os tipos de minorias, de reconhecimento público das diversidades culturais e de legítima e igualitária possibilidade de participação de todos nas esferas públicas referentes que lhes dizem respeito.
1 Bibliografia
2 REYS MATE, M. "Etica y política". In: La integración y la democracia del futuro en América Latina. Caracas, Ministerio para el Enlace entre el Ejecutivo Nacional y el Congresso de la República / Nueva Sociedad, 1997.
3 SCHERER-WARREN, I. & NPMS. Organizações voluntárias de Florianópolis: cadastro e perfil do associativismo civil. Florianópolis: Insular, 1996.
4 ___________. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1998.
5 SEMPRINI, Andrea. Le multiculturalisme. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.
6 TOCQUEVILLE, A. A democracia na América. Tradução de Neil Ribeiro da Silva. São Paulo / Belo Horizonte: EDUSP/Itatiaia, 1977. (Título original: De la Démocracie en Amérique)
7 VIEIRA, L. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1997
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